sábado, 29 de maio de 2010

Prelúdio - Poesia Africana

PRELÚDIO


Pela estrada desce a noite

Mãe-Negra, desce com ela...


Nem buganvílias vermelhas,

nem vestidinhos de folhos,

nem brincadeiras de guisos,

nas suas mãos apertadas.

Só duas lágrimas grossas,

em duas faces cansadas.


Mãe-Negra tem voz de vento,

voz de silêncio batendo

nas folhas do cajueiro...


Tem voz de noite, descendo,

de mansinho, pela estrada...


Que é feito desses meninos

que gostava de embalar?...


Que é feito desses meninos

que ela ajudou a criar?...

Quem ouve agora as histórias

que costumava contar?...


Mãe-Negra não sabe nada...


Mas ai de quem sabe tudo,

como eu sei tudo

Mãe-Negra!...


Os teus meninos cresceram,

e esqueceram as histórias

que costumavas contar...


Muitos partiram p'ra longe,

quem sabe se hão-de voltar!...


Só tu ficaste esperando,

mãos cruzadas no regaço,

bem quieta bem calada.


É a tua a voz deste vento,

desta saudade descendo,

de mansinho pela estrada..

Lisboa, 1951 (Poemas, 1966


Um comentário:

  1. Fantástico poema doce Marthinha, encantou-me mesmo! Quando abri o Blogue só te reconheci pelos teus trabalhos em papel, depois andei a ler as outras lindas mensagens.
    Adorei querida!
    Um jinho doxe,
    Ana Paula

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